Rungano Nyoni nasceu na Zâmbia e, aos 8 anos, deixou o país para morar com sua família em País de Gales. Ela não poderia retornar à Zâmbia até completar 14 anos, por questões burocráticas relativas ao visto de permanência. Do País de Gales, viajou à Inglaterra onde estudou na Universidade das Artes. É possível afirmar que Rungano é uma artista dividida entre dois mundos, África e Europa, logo entre dois olhares, da colônia e do colonizador. Quando participou da Cinéfondation, iniciativa no Festival de Cannes que reúne diretores iniciantes preparando o primeiro ou o segundo longa-metragem, Rungano chegou a ser questionada se a sua estreia em longas seria mesmo com um filme em seu país natal e não na Europa, onde teria maior facilidade de obter financiamento.
O conhecimento breve da história da cineasta parece-me essencial para compreender o que alcança em Eu Não Sou Uma Bruxa, tragicomédia lançada durante a Quinzena dos Realizadores em 2017 e representante do Reino Unido no Oscar de 2019. O filme trata de Shula, como é batizada a jovem garota de não mais do que 9 anos acusada de bruxaria e enviada a um acampamento de “bruxas”, onde decide a culpa ou inocência de suspeitos de crimes e convoca a chuva durante a estiagem.
Para compreender melhor a dialética entre as cenas que trarei, é importante definir o colonialist gaze ou olhar colonialista, o modo como os povos colonizadores buscaram a legitimação de uma falsa superioridade racial através do olhar dirigido ao Outro, dito primitivo ou selvagem. Este olhar explorado pela fotografia no século XIX e XX e pelo cinema etnográfico no século XX é um dos instrumentos de desumanização do outro, facilitador da exploração sob o pretexto da missão catequizantes e civilizadora.
Bem, quero mostrar, na prática este olhar em Eu Não Sou Uma Bruxa.
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