RoboCop é um filme dirigido pelo holandês Paul Verhoeven, em 1987, produzido pela Orion Pictures, que conta a história de Murphy (Peter Weller), um policial transferido para uma delegacia na Velha Detroit e que, no primeiro dia de trabalho, é assassinado com requintes de crueldade pela gangue de Clarence Boddicker (Kurtwood Smith). O corpo dele é enviado para a OCP (Omni Consumer Products) e utilizado como matéria prima para criar o policial do futuro, o ciborgue RoboCop, com o objetivo de erradicar a criminalidade para que a OCP construa a sua menina dos olhos, a Delta City. Porém, RoboCop sonha, lembra-se da vida pregressa e decide cumprir a justiça contra quem o assassinou, apesar de isso arriscar expor as relações não republicanas entre Dick Jones (Ronny Cox), o vice-presidente da OCP, e Clarence.
Mais do que somente o blockbuster da vez, RoboCop é uma produção que equilibra os temas da perda da identidade e reaquisição da humanidade, da crítica ao reaganismo a partir das políticas de sucateamento dos serviços públicos e privatização desregulada das próprias funções do Estados - que passam a ser conduzidas pela OCP, tais como o gerenciamento da força policial - e da sátira ao comportamento norte-americano, que, alienado diante do televisor, devora o mundo do lado de fora mediado por uma tela.
É um clássico maiúsculo, uma evidência de que é possível realizar entretenimento sem alienar o espectador, de maneira diversa do que faz o Minuto da Notícia - o programa fictício que interrompe a narrativa em algumas oportunidades. Mas hoje quero falar a vocês sobre o momento em que o espectador é apresentado ao RoboCop pela primeira vez.
A princípio, a câmera subjetiva - ou seja, a câmera substitutiva do olhar, neste caso, do RoboCop - é a maneira exclusiva com que (não) enxergamos o personagem mesmo que partilhemos o seu ponto de vista digital - atrás da tela com que media sua relação com o mundo. É uma das muitas diferenças entre original e a refilmagem, dirigida por José Padilha e que conquistou sucesso moderado de público e crítica, pois não enxergamos RoboCop sentado na cadeira onde os cientistas trabalham nos detalhes finais para que possa patrulhar a cidade. Não enxergamos o torso do cadáver de Murphy, mas estamos “dentro da cabeça dele”, enxergando o mundo como ele o enxerga; e isto torna a cena e a violência e violação que aquele cadáver sofre enquanto é reificado ainda maior.
É quando RoboCop ergue-se da cadeira, e Paul Verhoeven, sem cortar a ação, tem uma decisão inteligente para revelar o personagem sem quebrar a forma subjetiva: adotar o motivo recorrente, o televisor, para isso.
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