Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills (1996), Paradise Lost 2: Revelations (2000) e Paradise Lost 3: Purgatory (2011)
Três filmes que, conjuntamente, representam um dos trabalhos mais importantes da história do cinema documental: o ponto de partida é a investigação do assassinato de três crianças em Robin Hills. Os suspeitos, intitulados de Trio de West Memphis, são adolescentes fora do padrão e associados a satanismo. As provas reunidas pela polícia, o julgamento e os desdobramentos do caso movimentaram os diretores - Joe Berlinger e Bruce Sinofsky - por 15 anos. Não quero entrar em detalhes, mas o projeto revela, de maneira incontestável, o rosto preconceituoso da sociedade norte-americana, até mais do que o próprio crime.
Zodíaco (2007)
A filmografia de David Fincher explora o perverso voyeurismo do espectador a partir do estudo das perversões humanas. A psicopatia, a delinquência e a criminalidade em série interessam o diretor mais do que o resultado da investigação dos crimes, reais ou ficcionais, que narra. Zodíaco é, talvez, a obra que melhor revela quem é o autor David Fincher: o fascínio dele por um caso paradigmático (e não resolvido) da história norte-americana é refletido na investigação do trio central de personagens (Robert Downey Jr., Mark Ruffalo e Jake Gyllenhaal). É o procedimento, e não o resultado, tal como é o procedimento cinematográfico (o estilo obsessivo e controlador tipicamente associado ao diretor manifestado na formatação imagética fria e precisa) e não o conteúdo. Eu só não elejo Zodíaco o melhor do diretor porque Clube da Luta é um filme tão especial para mim.
Cabra Marcado para Morrer (1984)
O assassinato de João Pedro Teixeira, um líder da liga camponesa, motivou o diretor Eduardo Coutinho para viajar à Paraíba, dois anos depois, e investigar as causas e as circunstâncias do crime. Mas aí veio o Golpe Militar em 1964, e tudo no Brasil mudou. A equipe debandou. Os habitantes, idem. Só com o início da reabertura democrática a produção é continuada, mas aí não é mais o mesmo filme. Deixa de ser sobre o crime. Passa a ser sobre o regresso de Eduardo Coutinho àquela realidade, a exumação de um passado (social, individual e cinematográfico), a discussão do ofício de diretor, no qual Eduardo coloca-se à frente das câmeras e começa a afinar o estilo documental por que é lembrado. Se é uma obra maior do que a original poderia ser, não sei responder, pois a crítica não trabalha com hipóteses. O documentário é, sim, uma das obras essenciais para quem ama cinema brasileiro.
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