Os Sete Gatinhos (1980)
A segunda adaptação que Neville d’Almeida realizou da obra de Nelson Rodrigues, depois de A Dama do Lotação (1978), é uma história de terror, narrada no interior de uma família média e no qual o monstro é o homem médio, o pai médio ou o marido médio, aquelas figuras abstratas que remetemos quando queremos discutir ideias; e ideologia era o que havia na obra do conservador Nelson Rodrigues, mas desafiador das morais e bons costumes da sociedade no regime militar.
No elenco estão Lima Duarte, Antônio Fagundes, Ary Fontoura e Regina Casé, que é dona de um dos momentos mais marcantes de sua carreira, à beira da piscina, quando coloca um deputado no devido lugar. O sexo assume a posição meio e fim de uma obra que mete o dedo na ferida, chafurda, e assiste ao pus nascer na forma de gozo e sangue.
O Exorcista (1973)
Até hoje, considero o filme mais assustador que já tive oportunidade de assistir, e é a segunda indicação de William Friedkin em apenas uma semana. É um filme além de seu tempo, e por isto ainda poderoso para quem o assiste nos dias de hoje, por tema e estilo. Eu enxergo uma discussão feminista quando a jovem religiosa Regan é possuída por um demônio, o Pazuzu, e adota comportamentos profanos, vulgares e sexualizados - a ideia da Igreja repressora do feminino, que desagua do demônio, é ainda hoje assim discutido.
Em termos formais, é uma tragédia áspera, onde não há respiro nem afago, apenas dor e sombras. Tem um quê de documentário na forma de registrar o interior da casa onde acontece a maior parte da ação, em uma busca por realismo dentro de uma fantasia - e que não é tão fantástica assim. Ellen Burstyn, Max Von Sydow e Linda Blair estão para lá de incríveis no terror dos terrores.
O Planeta dos Macacos (1968)
Adoro a trilogia Planeta dos Macacos (2011-17), herdada por Matt Reeves do primeiro capítulo dirigido com não tão segurança por Rupert Wyatt. Por mais admirável seja O Confronto e A Guerra - perdoem a economia de palavras - ou o personagem digital mais marcante, o macaco César de Andy Serkis, eu retorno ao original, um marco da ficção científica e uma dos plot twists - para quem os ama acima de tudo - mais recordados da história do cinema.
A história já é conhecida: o astronauta interpretado por Charlton Heston aterrissa em um planeta povoado por macacos, e procura sobreviver da forma como pode. A obra é marcada por efeitos prostéticos até então inovadores e por uma influência na cultura popular que ultrapassa anos. Se você não sabe qual é o final, tampouco irei comentar, mas é daqueles que gostaria de ter vivido na época, dentro da sala de cinema, junto de tantos rostos surpresos. Deve ter sido um momento ímpar que jamais poderei viver.
Edição anterior:
Exorcista é realmente o “terror dos terrores”.