Antes de viajar de férias, tive a oportunidade de entrevista o diretor André Ristum, a atriz Fernanda Marques e a jornalista e escritora Daniela Arbex, autora de Holocausto Brasileiro, para o lançamento de Ninguém Sai Vivo Daqui, ficção com contexto real, em que uma jovem mulher é internada compulsoriamente no Hospital de Colônia, por ter engravidado fora do casamento.
O bate papo trouxe 3 adições à nossa lista.
Shiva Baby (2021), dir. Emma Seligman
No dicionário, o vocábulo ansiedade é acompanhado pelo título dessa comédia, na qual a estudante universitária Danielle (Rachel Sennott) encontra-se com o seu sugar daddy durante um shivá, a cerimônia judaica de luto. É uma obra que explora o embaraço e o constrangimento como formas de relacionar a experiência de Danielle ao espectador - sentimos o mesmo desejo de esconder a cabeça dentro da terra em certos momentos e torcemos para que a protagonista seja menos exposto do que imaginamos que será.
O filme tem também uma encenação que escrutiniza o ambiente doméstico, tornando em um espaço menos acolhedor à medida que o tempo passa. Muito falatório, muitos diálogos sobrepostos, muitas situações constrangedoras, e uma protagonista que tenta conservar a sua dignidade para que este shivá não seja também o seu luto social. E eu ia esquecendo: Shiva Baby foi escolha da atriz Fernanda Marques.
Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), dir. Giuseppe Tornatore
A escritora Daniela Arbex escolheu uma obra amada: Cinema Paradiso, um filme das mais delicados da história do cinema em que um diretor de cinema, de volta à cidade onde cresceu, relembra como começou a sua paixão pelo cinema. Quando criança, o coroinha peralta Totó (Salvatore Cascio) fugia da missa para espiar os filmes exibidos no cinema título. O rabugento projecionista Alfredo (Philippe Noiret), a contragosto a princípio, acolhe Totó e começa a ensiná-lo sobre a arte da projeção, em um período no qual a televisão chegou nos lares das famílias.
É um melodrama belo, que explora a história do cinema italiano e mundial, a censura ora praticada pelos membros da Igreja Católica, a amizade entre gerações unidas por um amor comum e o poder agregador da arte. A cena final embalada pela composição do maestro Ennio Morricone é tão bonita quanto é provocadora, uma ode ao amor, ao sexo, à nudez em um período em que são atacados com relativa frequência por grupos conservadores.
Profissão: Repórter (Professione: reporter, 1975), dir. Michelangelo Antonioni
André Ristum escolheu um dos muitos clássicos dirigidos por Michelangelo Antonini, a conclusão da trilogia da identidade Profissão: Repórter, após Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966) e Zabriskie Point (1970). Na entrevista, cometi a gafe de confundir um com o outro (nem lembro se cortei este trecho). Enfim, o roteiro trata de um jornalista em crise existencial, David Locke (Jack Nicholson), que encontra uma maneira de fugir de si próprio ao assumir a identidade de um homem recém falecido.
Entretanto, o homem de quem furta a identidade está relacionado com o mesmo caso do qual fugiu, a guerra civil em um país africano, aproximando-o ainda de uma mulher misteriosa (Maria Schneider). Além de Antonioni ser bastante inventivo na encenação, é um de seus filmes mais existenciais e reflexivos.
Uma curiosidade: todos estes filmes já foram discutidos no Clube do Crítico.
A entrevista com a equipe de Ninguém Sai Vivo Daqui pode ser conferida abaixo:
Edição anterior:
1.001 Filmes para Ver Antes de Morrer
Nesta semana, conversei com Alex Carvalho, diretor, corroterista e produtor de Salamandra, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27/06), ou se Disney/Pixar e Paramount não dominarem as salas de cinemas de sua cidade com Divertida Mente 2