Esta semana, entrevistei o diretor Guto Parente, do premiado Estranho Caminho, que entra em cartaz no cinemas brasileiros na quinta-feira. Guto, em entrevista anterior, havia mencionado a importância de Robert Bresson e Pedro Costa (que homenageia, no filme, no livro que o protagonista David está lendo). Pois bem, a partir daí eu irei construir a lista da semana.
Ladrões de Cinema (1977), de Fernando Coni Campos
Quando pedi para o Guto indicar um filme para a lista, depois de pensar, trouxe esta obra nacional, que ainda não tive a oportunidade de assistir. Estrelado por Antônio Pitanga, Milton Gonçalves, Wilson Gray, Grande Otelo e outros, Ladrões de Cinema é uma referência para o filme em que Guto tem trabalhado na montagem. É uma obra sobre fazer cinema, no qual moradores de uma comunidade furtam os equipamentos de uma equipe de filmagens norte-americana e, em vez de vendê-los, decidem realizar um filme.
A sinopse do filme, por ocasião do relançamento na 44ª Mostra de São Paulo é esta: “Durante o Carnaval, no Rio de Janeiro, uma equipe de cineastas norte-americanos têm seu material de filmagem roubado no bloco que eles estavam documentando. Os ladrões, do morro do Pavãozinho, resolvem eles mesmos fazer um filme, tendo a Inconfidência Mineira como tema. A população da comunidade adere à ideia com o mesmo espírito da preparação de uma escola de samba, com exceção de Silvério, que preferia vender o equipamento e dividir o dinheiro”. Exclui a parte final porque tinham spoilers.
O Batedor de Carteiras (Pickpocket, 1959), de Robert Bresson
É uma das obras mais celebradas do diretor francês, que tentou desdramatizar a arte cinematográfica e desfamiliarizar o espectador da ilusão a que estava acostumado com a intenção de provocar uma relação emocional do espectador diferente daquela com a qual estava habituado no cinema mainstream. Martin LaSalle interpreta Michel, o tal batedor de carteiras do título, que utiliza a habilidade como a sua forma de sobreviver material mas também espiritualmente.
Bresson explora a beleza formal além dos olhos mortos de Michel, do sentimentalismo que poderia existir em uma história igual a esta caso narrada de modo convencional, e, com isto, cria um cinema romântico na acepção da escola artística.
Cavalo Dinheiro (2014), de Pedro Costa
Tenho muito a conhecer sobre a obra do diretor português, creio até que este Cavalo Dinheiro foi a minha apresentação a seu cinema (ao menos é isto que o Letterboxd me conta). Lembro de tê-lo assistido na Mostra de São Paulo, e que minha maturidade na crítica e meu desconhecimento do cânone do diretor dificultaram esse meu contato. A impressão permanece na memória, na narrativa fracamente coesa, em que uma figura fantasmagórica até, a de Ventura, explora a própria condição (e portanto dos iguais na mesma situação), dentro de uma encenação que explora a potencialidade do quadro de cinema para enunciar verdades inconvenientes.
Onibaba - A Mulher Demônio (Onibaba, 1964), de Kaneto Shindō
Eu não gostei do subtítulo brasileiro reducionista e reprovável, que trabalha o horror no Japão feudal. Uma mulher e a sua nora, à espera do retorno do filho ou marido da guerra, preparam emboscadas para os homens que atravessam o oceano de bambus a fim de roubar os seus pertences, vendê-los e manter-se. A chegada de um homem e do desejo ameaçam o equilíbrio delicado nutrido na alienação e no medo, colocando nora contra sogra, em busca de um propósito no prazer que não apenas a sobrevivência. É uma obra que tive a oportunidade de ensinar durante o Clube da Meia Noite - junto a meu amigo e crítico Andrey Lehnemann, que toca o projeto de aulas e debates sobre o cinema de terror - e que mescla horror, erotismo e desespero dentro de uma artesania cinematográfica inesquecível.
Confira a edição da anterior da lista:
1.001 Filmes para Ver Antes de Morrer
Diferentemente das semanas anteriores em que o listão teve a colaboração da equipe dos filmes, não houve entrevistas nesta semana então as indicações serão as minhas.
Pickpocket e Onibaba ❤️