O Informante (1999), de Michael Mann
Quando estreou no Brasil, no início de 2000, eu já me considerava alguém que amava o cinema mais do que a média, um cinéfilo. O Informante foi um dos primeiros filmes que desafiou minha recém descoberta paixão, pois os 157 minutos do jovem clássico de Michael Mann fizeram alguns amigos torcerem o nariz. Eu permaneci entretido e tomado pela história de coragem de Jeffrey Wigand, que expôs a indústria tabagista para o mundo no programa 60 Minutos, de Mike Wallace, após o empenho de Lowell Bergman em veicular a matéria.
Até hoje eu retorno à trilha sonora de Pieter Bourke e Lisa Gerrard para reviver o que senti em O Informante. O poder que o filme teve em mim é tamanho que nunca, digo nunca, tive vontade de reassisti-lo (é o único filme de Michael Mann que amo e nunca revisitei). Eu tenho receio de não amar o tanto que amei, de não experenciar o que este filme me propôs quando tive 16/17 anos. A certeza é que é o filme que me fez conhecer mais um diretor, e de ir atrás de sua obra. Russel Crowe na sua melhor atuação (ele iria ganhar o Oscar no ano seguinte por Gladiador). Christopher Plummer, poderoso em sua serenidade. E Al Pacino, ah Al Pacino, o eterno injustiçado e a locomotiva de um filme perfeito.
Pequena Miss Sunshine (2006), de Jonathan Dayton e Valerie Faris
O dia está saudosista, então este é outro pelo qual meus joelhos dobram. Um filme que me fez sorrir, chorar, sofrer e alegrou meu coração a partir do convívio breve e inesquecível com a família da pequena e adorável Olive, que ousou ser criança num mundo em que crianças amadurecem precocemente em reflexos da ambição de seus pais. Para a família de perdedores em que cresceu, Olive transformou o sonho numa brincadeira. Uma curiosidade pessoal? Caso tenha uma filha, o seu nome será Olívia em homenagem à personagem interpretada por Abigail Breslin.
O filme é o que toda dramédia norte-americana sonha em ser. Tem um elenco repleto de estrelas estabelecidas (Toni Collette, Alan Arkin), em formação (Paul Dano) ou em transição (o caso de Steve Carell que deixava temporariamente a comédia para investir no drama) no indie por excelência, um em que a felicidade do membro mais inocente da família é representativo da felicidade e saúde emocional de toda a família.
A Batalha do Chile (1975-79), de Patrício Guzmán
A obra magna do diretor chileno Patrício Guzmán é um registro histórico, produzido no exílio, depois de o Golpe Militar depor e assassinar Salvador Allende e empossar o genocida e facínora Augusto Pinochet. É um documentário dividido em três partes, e que eu, teimosamente, considero como um filme único: A Insurreição da Burguesia (1975), O Golpe de Estado (1977) e O Poder Popular (1979) tiveram a produção de Chris Marker, um dos nomes seminais do cinema documental, no mais ambicioso registro feito das ditaduras militares empresariais apoiadas pela CIA na América Latina.
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